23 de agosto de 2010

Filosofia de Insetos

               

                Um hippie, perfumado de cachaça e cigarros, perdido pelo campus da Universidade, fez Viviane parar para refletir sobre sua filosofia paz e amor de viver. Ele lhe disse que todos somos luzes de estrelas no cosmos e que estamos em constantes transformações, somos "borboletas e estrelas do universo". A correria do cotidiano não permitia que Viviane pudesse deixar de ser uma "lagarta" humana para criar asas e voar pelo cosmos. Pois é, mas nem tempo para filosofar sobre borboletas e lagartas ela tinha, saiu correndo para encontrar uma sala lotada de alunos cansados e um professor contando os dias para sua aposentadoria. Almoçou e depois se acotovelou num ônibus lotado para ir trabalhar.

                A tarde de Viviane foi complicada: muita gente ao mesmo tempo num espaço físico pequeno, muita coisa para fazer com pouco recurso, tudo muito com muito pouco e isto lhe causava uma dor de cabeça monumental... Nem o bendito homem que inventou a aspirina lhe valeu naquele dia. Cada pessoa atendida e cada trabalho realizado não proporcionaram à nossa amiga nenhuma satisfação de dever cumprido, mas o sentimento de tédio que ronda as práticas rotineiras. Seu único momento de paz foi à fugidinha para o café, que na verdade não era nem para tomar café, mas para respirar longe de papéis e telefones.

               Chegou a casa, tirou os sapatos e deitou no tapete da sala se lembrando do papo do hippie, concluiu que ele estava errado, aliás, o hippie estava certo em se considerar uma borboleta cósmica, pois com sua cabecinha de vento não tinha grandes preocupações com trabalho, estudo, família e outros problemas, ele era um desapegado das coisas materiais. Mas ela, Viviane, era uma formiga! Uma formiga trabalhando nos dias úteis e assistindo Friends, acompanhada de um pote de sorvete, em suas folgas. Uma formiga-operária sem namorado, com uma mãe que temia pela sua solteirice, com amigas malucas e casos complicados.

                Humanos são insetos no mundo, podem ser borboletas despreocupadas, formigas estressadas, abelhas bem-sucedidas, piolhos inoportunos, gafanhotos inteligentes, louvas-deus antipáticos, baratas tolas, besouros durões, e por aí vai uma gama infinita de insetos humanizados, ou humanos insetados?

                ______ Hippie maldito! Não precisava me sentir uma formiga!



Daniely Borges

@daniielyborges

 

"Livrai-nos de todo mal. Amém"



17 de agosto de 2010

Pelados Socialmente

                  A moda dita a maneira como o mundo deve ser "vestido" da humanidade. Vestimos ideologias, crenças, amores, ódios, imagens e identidades. Usamos diariamente uma capa de Lifestyle ao mesmo tempo classifica e insere na sociedade, se nos vestimos "coloridamente" somos o grupo teen, se nós usamos roupas sensuais, somos "piriguetes", e por aí vai... Nossas roupas nos inserem no mundo, e mostram nossa percepção de realidade.

                  A partir dessa percepção social, quando um individuo é visto "nu" de grupos, ele é automaticamente excluído. Excluído sim, mas não é isolado, pois todos têm a curiosidade de olhar o estranho Gauche, que em vez de um Anjo da Guarda loiro e de olhos bondosos, possui como guardião um anjo torto que vive nas sombras. Se mostrar sem roupas à sociedade é declarar anarquia ao mundo vigente, e a anarquia, como todos os movimentos políticos e filosóficos, é positiva e negativa.

                 O anarquista pelado é tratado como um experimento científico, visto que não há muitos anarquistas dando sopa no mundo capetalista em que vivemos, pois as crianças crescem considerando que o modelo ideológico vigente é o correto, pois é o "único" conhecido por elas. Ao estudarem sobre os sistemas políticos nossos pequeninos são, na grande maioria das vezes, induzidos a ver o Socialismo, por exemplo, como o bicho-papão da história.

                 O amigo desnudo também desperta a questão do SER HUMANO em toda a sua plenitude, pois com sua decisão de ser "uma metamorfose ambulante" ele traz à tona um dos princípios fundamentais pelo qual nos intitulamos "animais racionais": o poder de escolha.  Por escolha, leia-se, pensar racionalmente, relacionar os prós e os contras de uma situação, e assim decidir. Há aquelas situações em que agimos por impulso, e se não foi pensada no calor do momento, essa ação deixa de ser escolha e torna-se instinto.

                 A decisão é natural ao SER humano, até mesmo para aqueles que se intitulam indecisos, pois estes decidiram não decidir rapidamente, mesmo que inconscientemente. O modus operandi que pelo qual realizamos escolhas é o que muda. A nudez do Gauche foi sua escolha, se foi boa ou não... isso depende da maneira como ele encara a vida. Eu decidi não me interessar por essa questão.

                  Decida. Seja humano em plenitude, verso e prosa. Com roupas ou como veio ao mundo. Depende de você: o sim ou o não.

 

 

Daniely Borges

@daniielyborges

 

"Livrai-nos de todo mal. Amém"