26 de novembro de 2010

Valores e outras conversas de garotas

Cansei, estou farta de tudo isso.
Mas, já?
Lógico! Dois anos aqui está me deixando louca, essas pessoas não entendem o meu valor.
Detesto suas crises de TPM! Como assim "pessoas"? Só moramos eu e você aqui.
Não to falando de nós. Estou falando do mundo inteiro. Você acredita que hoje perdi a carteira de estudante da faculdade e quando tentei entrar no campus o guarda me barrou? Ele me vê todo dia lá e me barrou! Por que fingiu que não me conhecia?
Você tá louca mesmo! O trabalho dele é esse, o estudante pode ser amigo dele, mas se perdeu sua carteirinha, vai ter que se identificar. Na minha opinião você está fazendo tempestade num pingo d'água.
...
O que foi agora?
Nada não. Deixa pra lá.
....
Eu não entendo... Tem certas atitudes que não são esperadas das pessoas, mas mesmo assim tentamos compreender. Tô assim, irritada, porque não consigo entender o ser humano.
O que você viu pra ficar desse jeito? Com certeza não é só por causa do guarda do campus.
Hoje eu parei para reparar a Laura, do sexto período, conhece?
Não, mas prossiga...
Pois é, a Laura é uma menina simpática, inteligente e querida pelos colegas da classe dela, mas no inicio do ano ela engravidou, ninguém sabe quem é o pai porque a Laura não tinha namorado até então, só "ficava" mesmo. E só porque ela engravidou as pessoas mudaram com ela, tratando-a "cheia de dedos" como se a gravidez fosse uma doença. Então eu pensei: e se fosse eu? As pessoas me dariam valor apesar do barrigão?
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. As pessoas têm o direito de mudar de comportamento caso haja mudança de situação. Isso é normal.
Pois é, a mudança é natural, até aí eu concordo. Mas o tratamento "cheio de dedos" me incomoda! Por que não chegam logo e falam na lata: Ei Laura, você está bem? E a gravidez?  Tratá-la como parte do grupo apesar da mudança, entendeu?
Eu entendo sua linha de raciocínio. Mas amiga, o preconceito ainda é um verme que tá incutido na cabeça das pessoas. Essa é a doença que mais ataca a sociedade. Também não considero normal tratar amigos de forma constrangedora somente porque estes não estão seguindo o padrão do grupo.
Amanhã vou conversar com a Laura, ver se ela está bem, se tá precisando de alguma ajuda, sei lá. Eu não agüento ver as pessoas serem tratadas mais por padrões de comportamento do que por valores como o respeito. Há muito tempo a gravidez deixou de ser um tabu quando ocorre com mulheres solteiras.
Amiga como você é ingênua! O tabu deixa de existir para algumas pessoas, mas para a grande maioria não. Temas como sexo e suas associações, como a virgindade, gravidez e DSTs ainda são considerados assuntos proibidos de serem comentados abertamente, mesmo com toda a publicidade sobre eles.
Será? Minha mãe sempre teve um diálogo muito franco comigo sobre virgindade, sexo e DSTs, sempre conversávamos sobre tudo. Ela é ainda minha melhor amiga. Acho que minha relação com mamãe é tão boa que todas as famílias deveriam seguir esse padrão.
Meu bem, seu caso é raro. Relação mãe e filha é um campo minado, tem de haver tato, conversa, compreensão, amor e respeito acima de tudo. E não é esse o cenário pintado na sociedade.
Qual é o cenário então?
O cenário é: garotas de treze, quatorze anos fugindo de casa para encontrar namorados que conheceram na internet, e que depois são encontradas maltradas, e até mortas. Talvez se houvesse conversa entre essas garotas e suas mães a situação seria outra...
É disso que estou falando... valores. Hoje em dia a primeira pergunta que as pessoas nos fazem é "qual o seu MSN/Orkut/Facebook?", estamos nos esquecendo de como é criar amizades pessoalmente. Eu não entendo por que a quantidade de "amigos" é tão valorizada no contador? Será que todos são mesmos amigos?
O contador é o termômetro social das pessoas, quanto mais amigos, mais sociável e legal eu sou, essa é a lógica. Não precisa ser minha amiga para aparecer no perfil. As relações estão mais superficiais, acabou o amor, isso aqui vai virar um inferno.
Boba! Mas infelizmente é verdade. Estou revoltada com o rumo que as relações humanas tem tomado. Na minha época de criança, a garotada toda se juntava na rua para brincar pique bandeira, queimada, o mestre mandou. Agora não aprendem a escrever e já estão com perfil em redes sociais! E o pior com sérias dificuldades de ser relacionar pessoalmente.
Vejo que você melhorou seu humor.
Pois é, desabafei.
Vamos tomar um sorvete ali na Sorveteria do Noca?
Só se for agora.

Daniely Borges
@daniielyborges

"Livrai-nos de todo mal. Amém"

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